O jogo no Mineirão
Um detalhe de talento decidiu a noite em Belo Horizonte. Em um Mineirão com clima de jogo grande, o Cruzeiro venceu o São Paulo por 1 a 0 graças a uma cobrança de falta de Matheus Pereira, batida com precisão milimétrica, no ângulo, daquele jeito que cala a arquibancada adversária e firma a confiança do time. Era um duelo direto na parte de cima da tabela do Brasileirão 2025, e o peso dos três pontos se sentiu desde o apito inicial.
O roteiro foi claro desde o começo: o Cruzeiro tomou a iniciativa, ocupou o campo ofensivo e tentou acelerar pelas beiradas, enquanto o São Paulo, muito remendado por lesões e suspensões, baixou as linhas e procurou transições rápidas. Sem um conjunto completo de titulares, o Tricolor teve de ajustar o plano para sobreviver em bloco médio, fechar o corredor central e apostar na qualidade de Luciano para reter a bola e causar dano em poucos toques.
Matheus Pereira, em grande fase, foi o farol do Cruzeiro. Entre linhas, recebeu de costas, girou, atraiu marcação e abriu caminho para triangulações. Nas bolas paradas, foi ameaça constante. Na falta que decidiu o jogo, o meia assumiu a responsabilidade, ajeitou com calma e mandou no canto alto. A barreira saltou, o goleiro até voou, mas a estreia da rede foi inevitável. “Golaço” não é exagero.
O São Paulo, mesmo com limitações, não foi espectador. Teve momentos de perigo, principalmente quando encaixou o primeiro passe após recuperar a bola. Luciano pediu pênalti em um lance dentro da área, reclamou muito, mas o árbitro mandou seguir. O time ainda conseguiu criar com Rodriguinho e Patrick, que alternaram infiltrações por dentro e cruzamentos por fora para tentar achar um desvio salvador.
Se o Cruzeiro tinha mais volume, o São Paulo tinha em Rafael um escudo. O goleiro fez defesas decisivas, principalmente em chutes de média distância e cabeçadas após escanteio. Em duas bolas consecutivas, mostrou ótimo tempo de reação e evitou que a partida virasse uma vitória tranquila dos donos da casa. Foi o melhor do Tricolor no jogo.
Depois do gol, o Cruzeiro controlou os ritmos. Alternou posse mais paciente com ataques diretos, puxou o São Paulo para o lado mais forte do seu meio-campo e forçou o rival a correr atrás. A comissão técnica mexeu para refrescar as pontas e proteger a entrada da área. Do outro lado, o São Paulo também recorreu ao banco, mas a lista de ausências — “mais de um time inteiro” fora, incluindo Enzo Dias, suspenso — limitou opções. Havia energia, faltava lastro tático para sustentar a pressão final.
A arbitragem teve noite de pouca interferência, mas a negação ao pedido de pênalti de Luciano virou assunto entre os jogadores. O jogo esquentou por alguns minutos, com discussões em volta do lance, e logo retomou o fluxo. Em campo, a diferença esteve mais na execução do que na polêmica: o Cruzeiro foi mais organizado, encaixou melhor as coberturas e usou a qualidade do elenco para administrar a vantagem sem se expor demais.
Nos acréscimos, sobrou maturidade para os mineiros. Faltas táticas, conduções para o canto do campo e posse segura perto da bandeirinha seguraram o resultado. O apito final confirmou uma vitória grande, pela tabela e pelo peso do adversário, que estava na mesma faixa de classificação.

Tabela, elenco e o que vem pela frente
O impacto na tabela é direto: o Cruzeiro, que já ocupava o terceiro lugar antes da bola rolar, consolida a presença no bloco de cima, encosta na liderança e abre margem sobre um concorrente direto. Em campeonato de pontos corridos, ganhar confronto direto vale por dois: você soma e ainda impede o rival. Essa conta ficou clara no Mineirão.
Mais do que os pontos, o Cruzeiro empilha argumentos. Vinha de triunfo no clássico contra o Atlético e agora valida a boa fase com outra atuação madura. Há consistência no trabalho: a equipe pressiona alto quando pode, baixa bloco quando precisa e tem uma bola parada que decide. Num calendário apertado, em que a perna pesa, bola parada ganha jogos — e pode decidir campanhas.
No São Paulo, a leitura é amarga, mas não desesperadora. O time segurou as pontas por longos trechos mesmo com a enfermaria cheia e suspensões que desmontaram a espinha dorsal. Enzo Dias, ausente por suspensão, fez falta na construção pelos lados. Sem tantos titulares, o Tricolor alternou bons momentos, viu Rafael brilhar e saiu com a sensação de que poderia pontuar com elenco mais inteiro. É aquele jogo que deixa recado: com gente disponível, a competitividade sobe um degrau.
O contexto geral também pesa. Cruzeiro está dividido entre o Brasileirão e a Copa do Brasil; São Paulo segue na maratona com Libertadores e compromissos domésticos. Essa sobrecarga afeta treino, recuperação e tomada de decisão. A rotação vira peça-chave: quem tem banco mais profundo, como mostrou o Cruzeiro, abre vantagem no médio prazo.
Individualmente, Matheus Pereira assume cada vez mais o papel de protagonista. Decide com a bola parada, organiza com passe curto e acelera quando enxerga espaço. Do outro lado, Rafael sustenta resultados e dá pontos ao São Paulo. Em jogos grandes, goleiro e batedor de falta costumam pesar — e pesaram.
Alguns detalhes táticos ajudam a entender a noite: o Cruzeiro protegeu bem a meia-lua, bloqueou o passe entre linhas para Luciano e, quando perdeu a bola à frente, reagiu com pressão imediata para impedir o contra-ataque limpo. O São Paulo tentou atrair o rival para um lado e inverter rápido, mas faltou precisão no último terço. Quando a perna cansou, vieram mais cruzamentos na área, que a zaga celeste cortou com segurança.
Em termos de confiança, o resultado impulsiona um e testa o outro. O Cruzeiro ganha lastro para a sequência pesada, com adversários que tendem a respeitar ainda mais seu mando no Mineirão. O São Paulo precisa recuperar peças, ajustar o time e transformar as boas atuações do goleiro em pontos na tabela. Se reduzir a lista de desfalques, briga de igual para igual pelo topo.
Os próximos dias serão de recuperação, vídeo e ajustes finos de ambos os lados. O Cruzeiro volta a campo mirando manter o ritmo e a eficiência nas bolas paradas. O São Paulo trabalha para repor energia, acelerar retornos do departamento médico e reequilibrar o meio, setor que sente mais a ausência dos titulares.
Lances-chave que moldaram o placar:
- A cobrança de falta perfeita de Matheus Pereira, que mudou o plano do jogo e obrigou o São Paulo a se expor um pouco mais.
- As defesas de Rafael, que seguraram o 1 a 0 e mantiveram o Tricolor vivo até o fim.
- O pedido de pênalti de Luciano, negado pelo árbitro, que aumentou a tensão e mexeu com o emocional em campo.
- A gestão de vantagem do Cruzeiro, com controle do ritmo e uso inteligente das substituições.
Em noite de detalhes, venceu quem foi mais preciso na execução. O Cruzeiro somou três pontos pesados no Mineirão e reforçou a imagem de candidato sério. O São Paulo, reduzido pelas ausências, mostrou competitividade e sai com a missão clara: recuperar gente, reorganizar a casa e voltar a pontuar na parte alta da tabela.