Ela parou as tardes da TV brasileira como a vilã mais lembrada das novelas mexicanas — e agora troca o salto alto pela lama do curral. Gaby Spanic, 51, atriz venezuelana consagrada por A Usurpadora, foi confirmada como a primeira participante estrangeira de A Fazenda 17. A presença dela, já ventilada por imagens vazadas do confinamento, marca um movimento inédito no reality e esquenta a disputa ao lado de nomes como o ator Gui Boury.
Da rainha das novelas à aposta internacional do reality
Nascida na Venezuela, Gaby começou no entretenimento em concursos de beleza no início dos anos 1990 e rapidamente migrou para a atuação. O salto veio em 1998, quando encarnou o papel duplo que a eternizou: a sofisticada Paola Bracho e a irmã gêmea Paulina, em A Usurpadora. O folhetim se tornou um fenômeno latino e, no Brasil, virou clássico de reprise, ajudando a construir a ponte afetiva entre a atriz e o público brasileiro.
O impacto daquela novela foi simples e direto: vilania afiada, frases que viraram bordão e uma performance que transitava do exagero melodramático ao carisma puro. Ao longo de mais de duas décadas, Gaby alternou trabalhos no México e em outros países hispânicos, acumulando papéis de protagonista e antagonista, além de participações em programas de variedades e competições de TV.
Por aqui, o nome dela nunca saiu do radar. A Usurpadora ganhou reprises, memes, dublagens icônicas e um lugar permanente no imaginário pop brasileiro. Trazer essa referência para o confinamento é um aceno calculado à nostalgia — e uma cartada para atingir públicos de diferentes idades, de quem viu a novela no fim dos anos 1990 a quem a descobriu em maratonas e redes sociais.
Para o programa, apostar em uma estrela latina com histórico internacional é uma estratégia clara: ampliar conversa, atrair imprensa fora do Brasil e oferecer um personagem pronto, que o público reconhece e quer ver fora do roteiro. Se funcionar, muda a régua do elenco e abre caminho para outras participações de fora.

Controvérsias, bastidores e o que esperar no jogo
Fama e polêmica andaram juntas na trajetória de Gaby. Ao longo dos anos, ela virou assunto por brigas públicas com colegas, disputas com ex-empresários e desentendimentos com emissoras. Um episódio em especial — uma acusação de envenenamento que virou caso de polícia no México — ganhou manchetes e alimentou versões diferentes. A atriz sempre seguiu trabalhando, multiplicando aparições e lidando com a curiosidade em torno de sua vida pessoal.
E esse é o ponto que mais intriga no reality: longe de personagens escritos, quem aparece é a pessoa, com humor, limites e contradições. Gaby já encarou formatos ao vivo e realities no mercado hispânico, experiência que costuma pesar. Ela sabe ler câmera, negociar convivência e transformar momentos em narrativa — um trunfo e, ao mesmo tempo, um risco quando a cobrança por autenticidade aumenta.
Sobre a adaptação, a barreira do idioma tende a ser pequena. O espanhol e o português se entendem, e a atriz já se comunica com fãs brasileiros nas redes. O desafio maior é o choque de rotina: tarefas rurais, disputas por poder e convivência intensa com perfis muito diferentes, de atores a influenciadores. É o tipo de ambiente que testa disciplina e tolerância, e desmonta a aura de diva em poucas semanas.
No jogo, a estratégia passa por equilibrar carisma e sobrevivência. A fama abre portas, rende torcida pronta e tempo de tela, mas também pode virar alvo. Se abraçar a persona de vilã carismática, corre o risco de cristalizar antagonismos cedo demais. Se apostar no lado vulnerável, aproxima público e colegas — desde que não soe ensaiado.
Há também o fator produção. Como primeira estrangeira, a presença de Gaby exige cuidados de bastidor, de visto de trabalho a ajustes de comunicação. Nada que assuste uma máquina de reality, mas suficiente para sinalizar a intenção de internacionalizar o elenco. E o programa deve explorar a memória afetiva do público em VTs, trilhas e referências à novela que a consagrou.
Do lado de fora, a recepção já mostra dois movimentos: a turma da nostalgia, empolgada para ver “Paola” no cercado, e os céticos, que temem que o reality vire palco de reprises de bordões. O efeito prático? Buzz alto, memes prontos e audiência curiosa para descobrir onde termina a personagem e começa a mulher por trás dela.
Se entregar humor, jogo e genuinidade, Gaby pode virar a peça central da temporada. Se tropeçar em conflitos ou parecer deslocada, vira história de “grande nome que não aconteceu”. É exatamente esse fio da navalha que sustenta a expectativa em torno da estreia e ajuda a explicar por que sua entrada, além de histórica, é também uma das mais observadas do ano na TV brasileira.