Nas profundezas das terras lusitanas, esconde-se um perigo invisível, mas potencialmente catastrófico. Um grande terramoto, semelhante ao que devastou Portugal em 1755, poderia mudar drasticamente a geografia e a vida do país. Foi o que revelaram simulações realizadas por pesquisadores do Instituto Superior Técnico (IST), utilizando o simulador Quake IST. Essas simulações sugerem que um evento desse porte resultaria no colapso total de 14 edifícios e no colapso parcial da maioria das construções na área afetada. As consequências de um evento desse tipo poderiam ser desastrosas, colocando em risco a segurança de milhares de portugueses.
O grande terramoto de 1755 foi um evento catastrófico que não só destruiu uma vasta área de Lisboa, mas também ecoou ao longo da história como um dos desastres naturais mais devastadores da Europa. Utilizando o Quake IST, os pesquisadores puderam calcular os possíveis impactos de um evento de magnitude semelhante nos dias atuais. O que essa simulação revelou foi alarmante: uma devastação generalizada que faria lembrar os horrores daquele fatídico dia. Com o colapso total de 14 edifícios e a destruição parcial de muitos outros, as implicações são claras; Portugal enfrentaria uma crise humanitária e infraestrutural sem precedentes.
Mónica Ferreira, doutorada em Engenharia Territorial e uma das figuras mais conhecidas no estudo de terramotos a nível global, trouxe insights importantes. Ferreira, que participou em missões de reconhecimento pós-terremoto em países como China, Haiti, Japão e Itália, sublinha uma realidade preocupante: Portugal não está preparado para um grande terramoto. Segundo Ferreira, um evento como o terramoto de 2016 na Itália, que resultou na morte de 299 pessoas, poderia deixar Portugal em reconstrução por pelo menos dez anos. A especialista critica ainda a falta de vontade política para preparar zonas de alto risco sísmico, como Lisboa e o Algarve.
Em Lisboa, as áreas históricas como a Baixa estão em grande perigo. Ferreira menciona que as atuais obras de renovação e conservação, conduzidas sem a devida supervisão pelas autoridades locais, estão tornando os edifícios mais vulneráveis. O problema é que muitas dessas obras não consideram adequadamente os riscos sísmicos, resultando em estruturas que parecem sólidas, mas que são extremamente fracas perante um grande terramoto. A falta de uma abordagem integrada e consciente dos riscos envolve tanto questões técnicas quanto políticas, criando uma perigosa ilusão de segurança.
Para compreender melhor a dinâmica dos terramotos, é crucial entender a ciência por trás das ondas sísmicas. O professor Carlos Oliveira explica que há dois tipos principais de ondas sísmicas: a onda 'P' e a onda 'S'. A onda 'P' é mais rápida e menos destrutiva, enquanto a onda 'S' é mais lenta, mas causa danos significativos. Oliveira ressalta que a onda 'P' pode servir como um sistema de aviso prévio, pois chega cerca de 30 segundos antes da onda 'S'. Esse curto intervalo de tempo pode ser vital para salvar vidas e mitigar danos, permitindo que medidas de emergência sejam acionadas. Sistemas de aviso prévio baseados nessa teoria já são utilizados em lugares como Califórnia e Japão, mostrando que é uma medida prática e eficaz.
A implementação de sistemas de aviso prévio em Portugal poderia fazer uma enorme diferença na gestão de um grande terramoto. Esses sistemas poderiam alertar a população e os serviços de emergência, dando tempo suficiente para ativar protocolos de segurança. Ferreira e Oliveira concordam que, embora a previsão exata de terramotos ainda seja uma ciência não exata, a utilização de sistemas de aviso precoce pode reduzir significativamente o número de fatalidades e danos materiais. Esses sistemas implicariam investimentos em infraestrutura tecnológica e treinamento especializado, mas os benefícios em termos de vidas salvas e minimização de destruição são imensuráveis.
O estudo do Instituto Superior Técnico e as palavras dos especialistas deixam uma mensagem clara: Portugal precisa agir urgentemente para se preparar para um eventual grande terramoto. A falta de medidas preventivas e a despreparação atual representam não apenas um risco para a infraestrutura, mas também uma ameaça direta à vida de milhares de cidadãos. É imperativo que as autoridades portuguesas adotem uma abordagem mais proativa, investindo em sistemas de aviso prévio, regulamentação rigorosa das obras de renovação e uma gestão integrada do risco sísmico. Apenas assim o país poderá estar minimamente preparado para enfrentar uma catástrofe de grandes proporções.